sexta-feira, 20 de março de 2009

Watchmen, o filme.


Esperei de propósito alguns dias para escrever sobre Watchmen, o filme. Isso porque ao mesmo tempo em que saí do cinema satisfeito com o que tinha visto, alguma coisa me incomodava, e eu precisei de um tempo pra entender o que era. Watchmen começa de forma brilhante, com duas sequências espetaculares: o assassinato do Comediante (unforgettable), e os créditos de abertura que contam o que aconteceu desde o surgimento do primeiro herói mascarado até a decadência completa dos vigilantes, com Bob Dylan de fundo e um afiadíssimo senso de humor. Ali Zack Snyder já tinha me ganho e o que viesse adiante era lucro. Mas depois desse início empolgante, que me fez acreditar que eu veria algo diferente da HQ, vem uma adaptação quase quadro-a-quadro da obra original. E rever em celulóide essa história que eu conhecia quase de cor não me acrescentou muita coisa como fã de cinema. Por isso, talvez, Watchmen não tenha me empolgado como V de Vingança, um filme que realmente transpõe uma obra de Alan Moore de um meio a outro, e por incrível que pareça, com vantagem sobre o original. Mas é inegável que Zack Snyder entende a graphic novel, e carrega o filme com ironia e com a maior qualidade da HQ: a ideia de vigilantes mascarados vivendo em um mundo real, e de como eles não se adaptariam a esse mundo, tornando-se outsiders e beirando o ridículo. Por falar em ridículo, o filme contém uma das melhores (senão a melhor) cena de sexo do cinema: Coruja e Espectral, desajeitados, expostos e humanos, ao som da maravilhosa Hallelujah, do Leonard Cohen. O único ponto realmente fraco é Ozymandias, personagem que nem de longe surpreende como no livro, aqui numa caracterização fraca, afetada e superficial. Fora isso, temos um filme digno, de um diretor talentoso e inteligente. Mas se Watchmen é considerado o Cidadão Kane dos quadrinhos, o Cidadão Kane do cinema ainda é o filme do Orson Welles mesmo.

Nenhum comentário: