
Quando, em tenra idade, fui com um amigo ver Mulher Nota 1000 no cinema, esperava ver a Kelly Le Brock pelada. Mas o filme não era nada disso. O tema era a angústia da adolescência, nesse caso voltada para a dificuldade juvenil em lidar com o sexo oposto. Os dois nerds protagonistas, que não conseguem se dar bem com as meninas reais do colégio, criam a mulher ideal, que acaba, obviamente, assumindo mais um lado mãe do que qualquer outra coisa. Ou seja: mulher perfeita, só a mãe. As outras, a gente tem que aprender a lidar. E não é fácil. E em se tratando de coisas que nunca são fáceis para os jovens, John Hughes era mestre. Foi só com a morte de Hughes, sexta passada, que eu parei pra pensar em como a sua obra é importante. Não para o cinema. Mas para mim. Os filmes de Hughes acompanharam a minha adolescência e me ensinaram que eu não estava sozinho. Todo o sofrimento, todas as decepções e as eventuais alegrias que eu tinha, faziam parte da vida de todas as pessoas. E era só uma questão de tempo até eu me acostumar com tudo isso. Os filmes de John Hughes devem ter deixado mais leve a vida de muita gente, no mundo todo. Como cinema, os filmes do diretor não ficaram. Eles pertencem a uma época. E não saíram de lá. Hoje, são vistos com nostalgia, e enquanto o tom libertário de Ferris Bueller e The Breakfast Club (não por acaso, seus melhores filmes) ainda provoca um sorriso, o ranço moralista de Mulher Nota 1000 e Uncle Buck irrita profundamente. Escrito por Hughes e dirigido por Chris Columbus, Esqueceram de Mim, entre seus filmes, é o que mais se aproxima de um clássico. Não exatamente pelas suas qualidades, mas pelo tom atemporal e por ter, de alguma maneira quase inexplicável, cativado o mundo inteiro em 1990. Mas talvez o extraordinário sucesso desse pequeno filme se deva ao fato de que Hughes lidou com uma das nossas primeiras angústias, e que acaba nos acompanhando a vida inteira: ser deixado sozinho. E dessa vez, a identificação foi dos 8 aos 80.
Entre trabalhos de John Hughes como roteirista e diretor, veja: Férias Frustradas, Gatinhas e Gatões, Clube dos Cinco, Curtindo a Vida Adoidado, Antes Só do que Mal Acompanhado, Férias Frustradas de Natal, Esqueceram de Mim
3 comentários:
Depois de muito tempo assisti o Clube dos Cinco. Me pareceu o 12 homens e uma sentença da juventude. A comparação é bizarra, mas te juro que faz sentido.
Faz um pouco de sentido, mas eu teria que rever O Clube dos Cinco.
Belo post. Só penso que, embora de forma despretensiosa, ele foi importante para o cinema sim. Afinal o cinema é, como toda a forma de arte, o que ele inspira e a forma como afeta as pessoas. E nisso, o cara foi mestre.
Postar um comentário