terça-feira, 28 de abril de 2009

Che.


Quando Steven Soderbergh não está brincando com homens e segredos, seu cinema é sério. E não só sério. É um cinema frio, cerebral. Era isso, portanto, o que eu deveria esperar do filme Che. Mas talvez pelo tema ou pelo trailer, eu estivesse imaginando um filme vibrante e emotivo. Por isso, a decepção. Mas depois de alguns dias, passei a considerar a escolha do diretor em criar uma obra que pretende analisar como se constrói uma revolução. E vi que, mesmo que o filme não seja satisfatório, a tentativa é válida. Os meandros, as regras e os dogmas em cima dos quais os revolucionários agem estão todos lá, nas cenas que acompanham a caminhada dos guerrilheiros até Havana. A defesa teórica da revolução através do discurso e das entrevistas de Che em Nova York, também estão presentes. Mas é um filme indiscutivelmente chato, sem crescimento, sem clímax e sem envolvimento. E isso não acontece por falta de habilidade. Ao contrário do Frost/Nixon do Ron Howard, feito com a inteligência de um diretor que deseja conquistar o público e sabe fazer isso como poucos, o Che de Soderbergh simplesmente não quer ser mais do que uma análise científica. O mérito é não cair na tentação de fazer uma obra que fosse satisfazer os ingênuos e sonhadores fãs incondicionais de Che Guevara. O filme é justamente simpático ao personagem, mas sem cair em maniqueísmos. E a opção pela ausência de emoção possibilita também um dos mais brilhantes e inteligentes finais dos últimos tempos, onde fica claro, através de uma cena aparentemente simples e divertida, que a utopia é inalcançável.

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