segunda-feira, 7 de abril de 2008

Heston in peace.


Se foi o último republicano-racista-reaça-canastra-fdp de Hollywood. E vai fazer muita falta. Sério. Acima de tudo, Charlton Heston era um ingênuo. O cara participou de vários filmes com conteúdo progressista, sem nem se dar conta. Ao mesmo tempo em que, como presidente do National Rifle Association, entrava a fundo na defesa do direito do cidadão de portar armas (ou seja, o direito do cidadão andar por aí com um instrumento que tem a única função de matar outro cidadão), Chuck estrelava filmes anti-belicistas como Ben-Hur e Planeta dos Macacos. Fez também um revolucionário espanhol símbolo da esquerda, o El Cid. E mostrou até onde vai a sanha capitalista ao gritar aos quatro ventos a clássica frase "Soylent Green is people!" no final do nada otimista No Mundo de 2020. Serviu até pra dar sustentação para as teses de Michael Moore em Bowling for Columbine, onde aparece velho, esclerosado e carcomido, numa cena humilhante que me ajuda a ficar com o pé atrás em relação ao documentarista gordinho-simpático. Heston declarava até que não havia conteúdo homossexual em Ben-Hur, onde é óbvio que o que dá início a toda a história de vingança que sustenta as quatro horas de filme é o fato do herói ter deixado pra trás as brincadeirinhas de infância pra começar a se interessar pelo sexo oposto. Messala, o amiguinho romano que não mudou de time quando cresceu, não aceita muito a idéia e passa a perseguir o amiguinho judeu. Por essa ingenuidade, pela canastrice, e por um certo talento para criar personagens mais cínicos a partir dos anos 60, Heston vai fazer falta. Ele foi o reacionário que fez alguns dos filmes mais progressistas da história de Hollywood.

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